01 agosto 2008

Uma "aula" de liderança e disciplina

Mas agora ia ser preciso fazer o shifting do Creoula. Ou seja, o lugar onde nós estávamos no cais era o posto de acostagem do Golfinho Azul, um dos navios que faz o transporte inter-ilhas e que chegava nessa noite. Teríamos por isso que chegar o Creoula para o posto de acostagem seguinte. E do porto só tinham avisado sobre isso bastante tarde, com uma parte da guarnição já em terra, que foi preciso chamar para voltarem a bordo... Eu tinha ficado à conversa na ponte e quando me apercebi já estavam a dar início à manobra. Deixei-me ficar...
E assisti à manobra toda ali de trás. Que cena fantástica! Que pena não ter ali uma câmara de vídeo: não vou ser capaz de reproduzir o que vi, o que ouvi, o que senti. O mais certo é ter sido uma manobra idêntica a tantas outras, mas eu nunca a tinha visto dali. O normal seria estar no convés. E estar a dar atenção, como de manhã quando atracámos, ao que acontecia fora do navio: à distância a que estávamos do cais, ao cais (afinal sou “engenheira de portos”), a quem estava no cais, às retenidas que eram lançadas, se chegavam ou não chegavam ao cais, ao caçar das regeiras e lançantes, por aí fora. Ali estava no “centro das operações”. Ouvia as ordens, as respostas, os “recebidos”. Via as reacções do “homem do leme”, do “homem da máquina”, dos marinheiros que manobravam os cabos de amarração. Estava fascinada!

Assisti à calma com que as ordens eram dadas. Para a ponte directamente. Para a proa através do “walkie-talkie”. À calma com que eram acolhidas as reacções por vezes a raiar o agressivo, provavelmente resultantes da extemporânea interrupção de uma noite de folga. Sentia-se tensão no ar. A tensão provocada pelo inesperado da tarefa. Por ter sido interrompido um jantar, uma noite de copos, uma conversa de amigos. A somar à tensão inerente à manobra. Era fundamental assegurar a calma. As ordens seguiam-se quase ininterruptamente. Para a proa, para a popa, para o leme, para a máquina. Secas mas tranquilas. Não as consigo reproduzir... E as respostas eram prontas, de vez em quando repetidas de forma provocadora se o “recebido” demorava.

Que pena não ter filmado! Mas teria a câmara sido capaz de captar o que se tinha ali passado? Duvido. Foi mais do que uma manobra complicada. Foi uma aula de liderança e de disciplina... Foi um dos momentos que mais me impressionou nesta viagem.

15 março 2008

Em Ponta Delgada...

"Não fazia ideia se havia algum procedimento específico para sair do navio. Devia haver com certeza, não podíamos desaparecer assim sem mais nem menos. Optei por ir à ponte “pedir permissão” ao oficial de serviço para ir a terra. Deparei com o XO, o TenV e o GMar. Riram-se, e autorizaram-me a sair. Quando cheguei à “prancha” é que percebi. Estava lá um quadro com os números
dos Is e umas fichas, com
um L de um lado e um B
do outro. O L não percebi o
que significava, seria “de Licença”? O B obviamente
que significava “a Bordo”. Mudei a minha chapinha
e saí.
Objectivo: ir à internet e comprar o chocolate para fazer o prometido bolo."

(...)

"E voltei para o Creoula... que estava lindo! todo engalanado com as bandeiras do “código de sinais”."

01 janeiro 2008

Mergulho no "Dori"

"Gostei mais deste mergulho do que do da véspera. A visibilidade também não era famosa, mas o cenário era bastante interessante. Este “dori” nada tinha a ver com os “nossos” dóris da pesca do bacalhau, era um ex Liberty-ship da War Shipping Administration dos Estados Unidos da América, com o nome inicial de Edwin L. Drake..."
"...foi interessante observar a enorme hélice, com duas pás viradas para o céu e, principalmente o “jogo de relevos” das vigias, das chaminés, das tubagens e o contraste que faziam com o azul da água e com a iluminação do sol ou dos focos dos
mergulhadores."

"Ainda tirei algumas fotografias apesar da suspensão, algumas “à boleia” do foco do Zé Tourais (...) e, mais uma vez, lá tive que “fazer subir” o mergulho. Fiquei mesmo furiosa!
Subimos.
19 metros, 50 minutos".

01 dezembro 2007

Entrada em Ponta Delgada

"Devagarinho, com a ajuda de rebocadores, entrámos no porto de Ponta Delgada. A frente marginal da cidade é magnífica pelo contraste dos imponentes edifícios brancos com as cantarias escuras.


A acostagem não foi fácil, o Creoula não tem bow thrusts, aquelas hélicezinhas laterais que ajudam a encostar os navios ao cais. Era preciso lançar retenidas para terra e à primeira tentativa estávamos demasiado longe."
(...)





"Que estranho! Estava a observar a manobra e descobri que não me lembrava, de maneira nenhuma, do nome dos cabos de amarração... Quantas vezes a largar ou a amarrar o meu barco, ou os barcos de amigos, dizíamos larga o “lançante”, passa já a “regeira” ou passa já o “spring”. Só que desta vez, NADA! Tive que, depois da manobra, ir pedir a ajuda ao “mestre” Madeira para me relembrar destes nomes; “a idade não perdoa mesmo!”"

18 novembro 2007

Rumo a Ponta Delgada

"7 da manhã. “Guarnição e Instruendos. Piii...iii... piiii... iiii (será que algum dia vou perceber o significado destes apitos?). Alvorada! Alvorada! A rotina do costume, duche, pequeno almoço... Mas depois... porque é que não tivemos de fazer limpezas? Talvez porque foi preciso levantar ferro e partir rumo a Ponta Delgada onde estava previsto chegarmos às 10 horas.

(fotografia de Luís Quinta,
tirada com a minha máquina fotográfica)


E entretanto tínhamos que nos preparar para a “faina geral”,
todos de “ponto em branco”.
Ou seja, nós, os Is, de “ponto em azul” todos vestindo os pólos ou polares azuis com o emblema do Creoula.
E “faina geral” significa:
os Is todos “alinhados” ao longo do convés, fazendo um cordão azul;
os oficiais no topo da “casota” da ponte..."

12 novembro 2007

Mergulho no ilhéu de Vila Franca

"Mergulhámos junto à agulha que se destaca do ilhéu, qual sentinela dos mares... A água estava bastante turva mas havia muito peixe. Desci devagar para ir equilibrando os ouvidos; o esquerdo, como de costume, é mais lento a reagir, mas acabou por estalar... Trocámos “OK”s e pouco a pouco fui-me libertando das preocupações - colete, ouvidos, ar -, para me deixar absorver pelo que estava em volta - os rochedos, as paredes, os peixes, os “buracos” nas rochas, a areia no fundo, os rodovalhos que mergulhavam na areia...
(...)
22 metros, 45 minutos. Não foi mau para quem tinha autonomia reduzida..."

15 outubro 2007

Escala em Vila Franca do Campo

"A escassas centenas de metros do ilhéu, concha encerrando uma “lagoa” interior e uma agulha destacada reforçando a guarda,

e a idêntica distância de Vila Franca do Campo com o seu casario branco envolvendo a muralha escura do porto,

não poderíamos escolher melhor cenário para a nossa primeira escala nos Açores"

25 setembro 2007

A "abordagem"

"subi ao convés a tempo de ver uma “ameaçadora” frota de canoas coloridas, pejadas de miúdos, alguns deles bem pequenos, que se aproximava para uma eventual “abordagem” ao Creoula"
(foto de José Tourais, publicada a preto e branco no livro)


Fundeados ao largo de Vila Franca do Campo.
No dia da chegada aos Açores.

06 setembro 2007

A "aterragem" nos Açores

"Quando cheguei à ponte a animação era grande! Cmte, GMar e “engenheiro” iam da amurada para o radar, do radar para a carta, da carta para o roteiro e do roteiro novamente para a amurada. Fui espreitar: viam-se já as luzes de uma qualquer povoação de São Miguel, provavelmente o Nordeste... mas no radar NADA! e farol também não... Seria aquela luz que aparecia “por trás de terra”?"


"E por fim começa a ver-se o nascer do sol: o horizonte a ficar iluminado, o céu a assumir tons de vermelho e depois de laranja, uma enorme bola alaranjada e depois amarela a subir lentamente no céu...

e um cheiro a torradas a sair pela clarabóia da câmara de oficiais."



No 6º dia da Viagem: o dia em que o Creoula chegou aos Açores.

31 agosto 2007

A ver "o mar a correr"



Sentada "junto à borda, num "banco de malaguetas" e os pés assentes num dos "burros" que cruzavam o convés, a ver as ondas de esteira que a proa ia sulcando no mar de azeite."



Na última noite, antes de o Creoula chegar aos Açores...

26 agosto 2007

Noite de festa


Depois de mais um espectacular pôr-do-sol, com que o Atlântico nos foi brindando a caminho dos Açores.

No 5º dia da Viagem.

10 agosto 2007

Uma palestra sobre meteorologia,


dada pelo Cmte Martins da Cruz.



Que foi, como disse alguém:
"Muito interessante e muito útil, sobretudo sem aquela "seca" das nuvens!"

E em que descobri mais uma página de internet, a do FNMOC, onde ir procurar a informação sobre o "tempo", que interessa aos velejadores e aos mergulhadores: o vento e a ondulação.

No 4º dia da Viagem.

06 agosto 2007

O nascer do sol no Atlântico...



Durante o "quarto" das 4 às 8!

No 4º dia da Viagem.

28 julho 2007

"Treinos" de Fotografia



e uma aula de "suporte básico de vida", dada pela Doutora Mafalda.

No 3º dia da Viagem.

23 julho 2007

Assim se dão nós




Uma aula de "nós", dada pelo sargento Madeira, o "nosso" mestre de marinharia...

No 2º dia da Viagem

17 julho 2007

O Índice, de "Uma Viagem.... no Creoula"


Prefácio (Capitão da M.M. António Marques da Silva)
Uma Explicação
Os Preparativos - “Por favor conta comigo!”
Faina Geral (David Azevedo Lopes)

A Travessia
Eu tinha um sonho... (Paula Terra da Mota)
26 de Julho - Adjunta de contra-mestre da mezena
Tudo balança neste navio. (Sofia Ribeiro)
27 de Julho - Meia volta de leme metida para sotavento
Lembro-me claramente... (Ricardo Horta Fernandes)
De volta (Eduardo Lupi)
28 de Julho - “Contacto a estibordo! Longe!”
29 de Julho - Sol, “praia” e “massagens”
Nós somos feitos de Sal,... (José Tourais)
30 de Julho - Um plano ambiental para o Creoula
A Vida Invisível dos Oceanos - Relato possível de uma missão (Sofia Ribeiro)
31 de Julho - “Já vejo o farol!”
Primeiro falaram-me em mergulhos. (Bela Blegatheaux)
Ponta Delgada
1 e 2 de Agosto - “Amarrados” ao cais
Enquanto Adjunto do Adjunto... (Steve)

Missão “Borbulha”
3 de Agosto - “Formigas à vista!”
Tenho tudo pronto,... (Luís Quinta)
A contemplação é o motor da viagem. (Sofia Ribeiro)
4 de Agosto - À deriva nas Formigas
Reflexões aleatórias de um engenheiro (Humberto Afonso)
Confissões do Comandante do Creoula (Jorge Martins da Cruz)
5 de Agosto - Mergulhar em pleno Oceano
Foi com muita satisfação... (Luís Pereira)
Louvor de David Lopes (Mavisa)
6 de Agosto - Um mergulho lindo

O Regresso a Terra
7 de Agosto - Procurando baleias à volta do Pico
DO CREOULA,... (Rita Andrew)
8 de Agosto - O último mergulho, a “sombra” da partida
Testemunho de um Director de Treino (Nuno Ribeiro)
9 de Agosto - 1280 milhas percorridas, 288 horas de navegação
Viagem National Geographic 26JUL - 9AGO (Pedro Palma)

Entrar em Lisboa

04 julho 2007

O Prefácio de "Uma viagem... no Creoula",

é do meu amigo Capitão António Marques da Silva.


Aqui, "ao leme" do Creoula, revivendo os tempos passados, quando comandou diversos navios da frota portuguesa de bacalhoeiros.


(foto do Ricardo Granja, tirada num jantar a bordo do Creoula em Ílhavo)


O Capitão Marques da Silva é autor de diversos livros, textos e modelos, em que conta histórias dos tempos idos da Epopeia da Pesca do Bacalhau, ou "descreve" embarcações tradicionais, algumas delas que já não existem.


Destes livros recomendo vivamente "Memória dos Bacalhoeiros", uma narrativa empolgante da vida e trabalho nestes navios.

22 junho 2007

A Capa de "Uma Viagem... no Creoula"


teve por base esta magnifica pintura de Maria João Allen Gamito (acrílico e óleo sobre tela)

e sobre ela foram "montados"

o símbolo da
"expedição" da autoria de Luís Quinta:

uma manta que "abraça" os locais visitados nos Açores


e um extracto do "diário de bordo" do N.T.M. Creoula, correspondente ao 1º dia da Viagem

21 junho 2007

As fotografias n"Uma Viagem... no Creoula"

são de:

  • Bela Legatheaux

  • Eduardo Lupi

  • José Tourais

  • Luís Quinta

  • Mário Silvestre

  • Teresa Mª Gamito


  • e o "Plano Vélico" do
  • José Cabrita
  •